Nova geração no Irã: entre máscaras e coragem

Seja na escola ou na universidade, os horários de oração muçulmana e as aulas sobre o Alcorão ou o islã são obrigatórios para todos os alunos e estudantes nas instituições públicas de ensino do Irã. Para os cristãos de origem muçulmana, isso significa usar uma máscara e fingir ser muçulmano.
Mobina* fala sobre esse fardo: “Sou cristã e tenho que me comportar como muçulmana. Sou forçada a frequentar as aulas sobre islamismo e a realizar as orações islâmicas. As aulas na escola colocam muita pressão sobre mim, porque nada daquilo está de acordo com a nossa fé e os nossos valores”.
Se Mobina passar a impressão de que não apoia o islã, isso pode trazer sérias consequências. De um lado, ela poderia enfrentar rejeição por parte dos colegas; do outro, isso poderia afetar suas notas e, no pior dos casos, ela poderia ser expulsa da escola. E caso seja denunciada ao serviço secreto, ela e todos que a conhecem estariam em grande perigo.
Como a descoberta da nova fé traz muitas consequências negativas, os jovens cristãos não podem ser honestos com as pessoas ao seu redor e isso frequentemente leva ao isolamento social. Mehrdad*, que conheceu Jesus ainda jovem, conta sobre o fardo que precisou carregar durante o serviço militar: “Era um ambiente totalmente islâmico. Percebi que ali eu não poderia fazer nada. Fiquei muito mal, não podia falar abertamente com ninguém”.
Ter que fingir alguma coisa constantemente também leva a conflitos de consciência. Mehrdad relata que teve que declarar sua religião no início do serviço militar. Por medo, ele marcou “muçulmano” no formulário. Olhando para o passado, negar a Cristo naquela ocasião lhe trouxe muita culpa.
Usar uma máscara torna-se especialmente desafiador se seus próprios pais forem muçulmanos rigorosos. Nesses casos, os jovens precisam esconder a nova fé até mesmo da própria família, vivendo com o medo constante de serem descobertos, como nos conta Azad*: “Quando um jovem cristão conta para a família sobre sua conversão, ouve coisas como: ‘Você não é meu filho, você não é minha filha. Você envergonha nossa família e será deserdado’. E, quando fala sobre o evangelho com seus amigos, sente-se muito sozinho”.
Comunhão é um privilégio que nem todos podem ter
Ter comunhão com os irmãos e poder tirar todas as máscaras é um enorme privilégio os cristãos no Irã que têm essa oportunidade. Mehrdad sentiu na pele o que é o isolamento: “Minha vida cristã era isolada. Eu só tinha a Bíblia e minhas conversas com Deus”. No entanto, é muito importante, principalmente para os jovens cristãos, ter amigos da mesma idade com quem possam passar o tempo livre, conversar e crescer juntos na fé, amigos com quem possam adorar e servir a Deus em unidade.
O problema também fica evidente no momento de escolher um parceiro. Afinal, onde você vai encontrar um parceiro cristão se mal conhece outros cristãos (ainda mais da mesma faixa etária)? Nas igrejas domésticas, há um grande desequilíbrio de gênero, pois há muito mais mulheres do que homens.
Quando o desejo de constituir família se torna cada vez maior, “muitas mulheres me dizem que não conseguem encontrar um parceiro adequado que creia em Jesus e se sentem obrigadas a procurar alguém fora da igreja”, diz Sogol*. Entretanto, mais cedo ou mais tarde, isso leva a grandes dificuldades para viver a fé e lidar com questões como a organização da vida a dois ou a criação dos filhos. “Ore para que eu encontre uma esposa cristã”, Mehrdad nos pede.
Mas a falta de uma rede de apoio cristã não é o único grande desafio. Mesmo quando os jovens estão conectados a uma igreja e têm parentes e amigos que acreditam em Jesus, vivem em constante incerteza de serem deixados sozinhos, como explica Mobina: “Claro que nenhum de nós sabe o que o futuro trará. Mas esses jovens nem sequer têm a menor certeza se permanecerão no Irã ou não. Eles podem ser presos a qualquer momento e cada dia é incerto para eles e suas famílias”.
Isso significa que, mesmo vivendo em comunidade com outros cristãos, eles sabem que essa realidade pode mudar de uma hora para outra e podem ficar completamente sós. Foi exatamente isso que aconteceu com Sogol quando ela tinha 17 anos. “Vivemos uma série de prisões. Levaram até nosso pastor e agora a minha mãe também está presa.” A própria Sogol foi interrogada, pressionada e ameaçada em decorrência dessas prisões. “Agora eu moro sozinha, tenho todas as responsabilidades e pressões da vida adulta e levo uma vida completamente solitária.”
Bahareh* também viveu isso quando seu pai foi preso: “Agora que meu pai não está mais aqui, como vou cuidar da minha mãe, fazer o trabalho do meu pai e pensar no que vai acontecer depois? Senti um peso enorme em meus ombros e fiquei profundamente abatida”.

Líderes da próxima geração no Irã
Como o governo reprime os líderes das igrejas, muitos outros cristãos acabam sendo deixados à própria sorte. Tanto nas igrejas domésticas quanto em suas próprias famílias, os jovens frequentemente têm que assumir responsabilidades desde cedo e, por isso, rapidamente ocupam posições de liderança nas comunidades cristãs.
No entanto, o desafio é que, muitas vezes, faltam líderes espirituais e mentores que os ajudem a amadurecer na fé e os preparem para as responsabilidades e perseguição que surgem com isso. No entanto, ao mesmo tempo, os jovens estão encontrando novas formas de alcançar pessoas para Jesus e, segundo o pastor Hovan, já não se intimidam tanto com o governo como a geração anterior: “Em muitos casos, esses jovens se tornaram mais corajosos e suportam a perseguição por sua fé e pelo crescimento da igreja”.
Como resultado, os jovens adultos são um dos pilares da igreja perseguida no Irã – e por isso estão na mira da polícia secreta. Consequentemente, também estão sofrendo cada vez mais perseguição direta. Bahareh tem 30 anos e faz parte de uma minoria cristã. “Qualquer pessoa que queira conduzir outros cristãos na fé, como eu faço, será destruída no Irã. Sua vida será arruinada. Sua família será despedaçada. Somente com a força de Deus podemos continuar”, conta.
A Portas Abertas apoia essa necessidade dos jovens cristãos no Irã e, por meio de parceiros, investe em cursos de capacitação para educar, fortalecer e preparar os jovens líderes para seu novo papel.
Mas o que leva muitos jovens cristãos a permanecerem no Irã apesar dessas circunstâncias tão difíceis? O que os faz permanecer firmes na fé em Jesus, mesmo diante das poucas perspectivas de futuro, da enorme pressão e da constante ameaça de prisão?
“Cristo se revelou a mim de uma maneira tão maravilhosa que eu o sinto em cada parte do meu ser. Quando estou triste e chateada e me prostro em oração, ele me traz esperança. Ele me lembra das promessas futuras e me dá forças para permanecer firme”, explica Sogol.
Ela e muitos outros cristãos testemunham como Jesus se revela de forma sobrenatural e os encoraja a brilhar como uma luz viva para os outros ao seu redor. Mobina também relata: “Todos tentamos, de maneiras diferentes, estender a mão a outros jovens que ainda não entregaram seus corações a Cristo, e queremos presenteá-los com o amor de Jesus. Decidimos não nos deixar guiar pelo medo, mas nos manter firmes na verdade e evangelizar outras pessoas”.
Entretanto, cumprir essa missão traz grandes desafios e sofrimentos. “Por favor, ore para que saibamos qual é a nossa identidade em Deus, para que não percamos o foco da nossa missão e para que tenhamos paz e força em nossa fé”, pede Mobina.
Participe do Shockwave 2025
Junte-se a essa missão. Faça parte do avivamento no Irã e apoie esses corajosos portadores da esperança. Ao se cadastrar como líder de um grupo no Shockwave, você se une aos jovens cristãos no Irã por meio da oração, fortalecendo-os no meio dessa batalha!
*Nomes alterados por segurança.
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